Meu olhar estava grudado no
telefone. Gotas de água salgada lavavam meu rosto, escorriam por minha boca e
trilhavam seu caminho sem importar a direção. Porém, o olhar ainda estava no
telefone. Como se apenas minha força de vontade fosse capaz de fazê-lo tocar
(era isso mesmo que eu queria? Ou era eu quem queria usá-lo? Pra falar o quê?
Pra ligar pra quem? Já nem sei mais). O relógio me encarava à espera, sorria
debochado para mim.
“Ela nunca ligará”. Eu deveria?
Peguei o fone.
“E agora?”, perguntei-lhe
tolamente.
“Não há ninguém”.
E chorei de novo.
As lembranças vieram em flashes,
relembrando-me da minha dor – necessidade, angústia e aflição. Era um mar de
desilusão. Adentrando cada poro de minha pele. Inundando cada vaso sanguíneo, encharcando
órgãos, mas murchando coração. As lágrimas, entretanto, apenas continuavam
vindo.
Meu corpo tombou languidamente na
cama e, quase que instantaneamente, o grito da minha solidão reverberou pelo
quarto, acordando cada mísero objeto do cômodo. E riram. As imagens rodopiavam
em meu campo de visão. Gargalhadas e deboches. Deboches e gargalhadas. E o
sorriso.
O sorriso me marcou.
Era zombeteiro e astuto, como o
gato de Cheshire. Pronto para dar o bote. Pronto para me atormentar com o
motivo real do meu desengano. Era o telefone que vinha em minha direção.
Gargalhava, debochava e sorria. Sorria, debochava e gargalhava. E vinha. E
vinha. E vinha...
Acordei assustada. As gotas em
meu rosto eram apenas de suor. O quarto estava inundado com as cores da aurora
– estático. Meu olhar seguiu, imediatamente após, ao telefone. E eu o tomei em
mãos sem medo, discando o número já decorado.
“Oi.” Meu suspiro de alívio foi
descomunal. “Aconteceu alguma coisa?”
“Apenas fantasmas do passado.” Pausei.
“Só precisava ouvir sua voz para afugentá-los”.
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